sexta-feira, 1 de outubro de 2010

REFLEXÕES SOBRE O ENCONTRO DE JESUS E O RICO -Parte 1- A Soberania de Deus

REFLEXÕES SOBRE O ENCONTRO DE JESUS E O RICO
-Parte 1-
A Soberania de Deus

E, pondo-se a caminho, correu para ele um homem, o qual se ajoelhou diante dele, e lhe perguntou: Bom Mestre, que farei para herdar a vida eterna?
E Jesus lhe disse: Por que me chamas bom? Ninguém há bom senão um, que é Deus.
Tu sabes os mandamentos: Não adulterarás; não matarás; não furtarás; não dirás falso testemunho; não defraudarás alguém; honra a teu pai e a tua mãe.
Ele, porém, respondendo, lhe disse: Mestre, tudo isso guardei desde a minha mocidade.
E Jesus, olhando para ele, o amou e lhe disse: Falta-te uma coisa: vai, vende tudo quanto tens, e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, toma a cruz, e segue-me.
Mas ele, pesaroso desta palavra, retirou-se triste; porque possuía muitas propriedades.
Então Jesus, olhando em redor, disse aos seus discípulos: Quão dificilmente entrarão no reino de Deus os que têm riquezas!”
Mc 10:17-23

Esta pequena narração que se encontra no Evangelho segundo escreveu Marcos me faz refletir sobre alguns detalhes do cristianismo, detalhes que revelam essência e beleza na nossa fé, mas que andam esquecidos (talvez seja mais verdadeiro dizer: ignorados).

O tema sobre a soberania de Deus não é o tema central desta passagem, mas é impossível não nos depararmos com ele, visto que a passagem é referente àquele que é soberano, e aqui é possível perceber coisas preciosas sobre a ação do Deus soberano dos evangelhos.
Alguns dentre nós costumam expor ao mundo através de muita destreza e habilidade a transcendência de Deus, sua imutábilidade, que está acima de qualquer vontade humana, que faz o que quer e quando quer, não devendo satisfação a ninguém visto que ele é soberano, ora tudo isto é verdadeiro, pois lemos nas Escrituras:

Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos os meus caminhos, diz o SENHOR.” Isaías 55:8

Bem sei eu que tudo podes, e que nenhum dos teus propósitos pode ser impedido.
Jó 42:2

Porque eu, o SENHOR, não mudo; por isso vós, ó filhos de Jacó, não sois consumidos. Malaquias 3:6

Toda a boa dádiva e todo o dom perfeito vem do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não há mudança nem sombra de variação. Tiago 1:17

Mas, ó homem, quem és tu, que a Deus replicas? Porventura a coisa formada dirá ao que a formou: Por que me fizeste assim? Romanos 9:20

E essas são verdades reconfortantes, pois por elas sabemos que a vida pertence e obedece ao nosso Deus, é reconfortante porque podemos descansar nEle, sabendo que ele realiza tanto o início quanto o fim, que a consumação de todas as coisas não fogem de suas mãos, tudo esta no seu controle.

O que então Mc 10:17-20 fala sobre isto? O que revelam estes versículos?
Bem, devemos afirmar a verdade da Soberania de Deus, mas existe algo a mais que também deve ser afirmado, proclamado e defendido: O Soberano SENHOR veio até o homem.

Marcos nos revela Deus em Jesus, isto é Deus aqui, na esfera humana, conversando, respondendo e ensinando a alguém infinitamente menor do que Ele e mais do que isso tornado igual ao que lhe é menor. Podemos equivocadamente achar que Soberania e Onipotência divina são características que distancia Deus de suas criaturas, a exemplo dos deuses da mitologia grega (seres altamente egoístas, os quais agem de qualquer jeito, não se importando com os homens). Aparentemente contraditório e totalmente paradoxal o Deus revelado nas Escrituras fez uso de sua Soberania e Onipotência, não para isolar-se em sua glória, mas para se tornar acessível, se fez menor do que os anjos, esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens. Deus humilhado por si mesmo, Deus incompreensível! E paraxodalmente, esta aparente limitação foi incapaz de reduzir a sua glória, pelo contrário, pois está escrito: “E, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz. Por isso, também Deus o exaltou soberanamente, e lhe deu um nome que é sobre todo o nome; para que ao nome de Jesus se dobre todo o joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra, e toda a língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai.” Fl 2:8-11

O Deus soberano das Escrituras pode fazer o que ele quiser, mas isso não significa dizer que ele faça qualquer coisa. Deus age de uma forma maravilhosamente coerente com a sua natureza. Que logicamente é a mesma natureza encontrada em e anunciada por Jesus: “Deus é bom”, conforme o nosso texto afirma. E Ele é bom conforme o que entendemos que seja bom, ainda que a bondade não faça parte do que somos, do contrário o que Jesus falou a respeito de Deus não teria sentido. Deus é bom “porque Deus não pode ser tentado pelo mal, e a ninguém tenta.”. Esta Bondade e o mesmo amor e Justiça são a nós revelados pela pessoa de Jesus, pois Ele é o resplendor da glória de Deus, e a expressa imagem da sua pessoa” Hb 1:3 de forma que não podemos imaginar um Deus maior ou menor que Jesus, não existe! Ele é a imagem do Deus invisível. Cl 1.15, E ainda se encontra nas escrituras: “Anunciai, e chegai-vos, e tomai conselho todos juntos; quem fez ouvir isto desde a antiguidade? Quem desde então o anunciou? Porventura não sou eu, o SENHOR? Pois não há outro Deus senão eu; Deus justo e Salvador não há além de mim.” Isaías 45:21

Imaginar um Deus com um caráter diferente do de Jesus é criar um ídolo! Por isso Jesus disse: “quem vê a mim vê o Pai”. Diante de Cristo não faz qualquer sentido perguntar: “Mostra-nos o Pai?”. Jesus é a natureza de Deus revelada aos homens. Que nos comunica o ser de Deus integralmente inclusive seu padrão moral. De forma que é insanidade dissociar os atos de Deus e seu caráter dos de Jesus. Ele não está acima do que é bom, Ele é bom conforme nos é revelado em Cristo e nas escrituras. Digo isto pois já foi dito em certas teologias, afim de defender algumas supostas ações de Deus, explicitamente injustas aos olhos humanos, como salvar alguns pecadores e deixar outros agonizando no infortúnio da perdição decretando que jamais teriam a possibilidade de salvação visto que a estes não quisera derramar amor e graça, mas ira e condenação. Ora mesmo nós sendo maus sabemos que tal atitude é fria e cruel, pois tendo condições de salvar da morte física duas pessoas que estejam soterradas e sem condições de salvarem a si mesmas não exitaríamos em empregar esforços na intenção de salvar as duas. Ora não existe duas justiças, a de Deus e a dos homens, apenas uma, a diferença é que Deus a executa com perfeição e os homens não. Assim como o infinito não pode está acima do infinito, Deus não pode estar acima do bom, Ele se identifica com o bom. Ele é o padrão moral. E Deus não apenas age de acordo com seus padrões morais como também os comunica ao homem e o convida para que sigo o seu padrão de retidão revelado: “Sede santos pois eu sou santo”.

Este Deus maravilhosamente soberano agindo conforme sua natureza de amor, bondade e justiça, faz com que o encontro deste rico com Jesus, seja possível, e assim só é porque Ele não se isola na sua soberania, como pretendem para ele alguns teólogos. Mas ele soberanamente decidiu, por seu Filho, se reconciliar com o mundo, se encontrar com o homem. Mesmo com um rico que se retiraria triste e pesaroso após ser amado e chamado pelo próprio Filho a segui-lo. Mesmo com tal homem do qual somente sabemos que era rico, de posses, de obras, da Lei, e que mesmo confessando a incapacidade dos seus bens de lhe dar segurança eterna e apesar de ser amado pelo próprio Cristo e receber a honra do Seu convite, preferiu a pobreza de suas riquezas aos tesouros do céu adquiridos através da rendição em fé. Estes versos nos mostra o quão maravilhoso é o Deus evangélico (dos evangelhos), que ama até mesmo aos que não o respondem favoravelmente, tal amor nos faz completamente indesculpável e dignos da ira divina, merecedores de toda condenação, visto que podendo ser salvos pela graça em Cristo, não queremos. E já que sem Cristo não há libertação, pois “Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres.”quem nos livrará do corpo desta morte?”, "como escaperemos nós se negligenciarmos tão grande salvação?"  

A soberania de Deus é revelada no seu amor! 


NEle que mesmo sendo Deus soberano, tomou a forma do homem limitado, afim de nos atrair para si,
Tiago M. Barros